Em Muidumbe, como furriel atirador, fazia regularmente rondas nocturnas aos postos de sentinela, batidas ao campo de aviação para ver se não havia minas, abastecimento de água e mais um pormenor ou outro. Mas as tarefas principais eram as patrulhas pelas picadas e as colunas motorizadas para ir buscar abastecimento a Mueda.
Por norma, as patrulhas eram feitas por um grupo de combate ou pelotão - 20 e tal soldados e cabos, 2 furrieis e um alferes milicianos. Era pois, uma guerra de milicianos e soldados, todos amadores.
As numerosas patrulhas pelas picadas pedonais em que participei foram pacíficas. Apenas uma vez tive que levantar uma armadilha - uma granada de mão e um fio de tropeçar na picada. O homem da frente teve bom olho e a minha parte foi fácil.
As patrulhas que duraram 2 dias tiveram o grande inconveniente de dormir no mato, no chão por vezes molhado - muito desconfortável.
Com mais história foram algumas patrulhas pela picada das viaturas, que se fizeram para proteger colunas motorizadas que vinham depois. Uma noite à partida para uma daquelas patrulhas, não havia maneira de decidir quem iria à frente porque, diziam os soldados, a emboscada era certa uma vez que tinha havido muito movimento de viaturas e a Frelimo via tudo. Num impulso, com a arma em riste, pus-me a caminho sem olhar para trás. O pessoal teve que me seguir embora com distância. Duas ou três horas depois, já próximo do fim que nos havia sido marcado, e quando começou a clarear, pensei - já posso fumar um cigarro - e levei a mão ao bolso, ficando com espingarda mal segura, só numa mão.
Então rebentou o Mundo, o sopro das granadas atirou-me de cu para o chão e senti vibrar o chão da picada com a entrada das balas. Não sofri nem um arranhão. Após a aproximação dos primeiros soldados, entrámos no mato e vimos um pequeno abrigo com 2 carregadores vazios de espingarda automática, muitas cápsulas de balas e várias cavilhas de granada. Tive enorme sorte. Houve quem dissesse que tinha uma estrelinha na cabeça.
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