19.6.11

MEMÓRIAS DE UMA GUERRA QUE NÃO DEVIA TER EXISTIDO




Já lá vão 45 anos. Mas recordo-me como se tivesse sido ontem.


A cavilha de granada chinesa que se vê na imagem, continua comigo. As outras, bem como os 2 carregadores curvos das automáticas também chinesas foram entregues a quem de direito.


Na madrugada de 11 de Julho de 1966 caminhava eu pela picada Muidumbe/Miteda, bem isolado na frente da coluna porque os soldados sabiam que ia haver ataque e naquela noite não havia força nem argumentos que os colocassem na frente.


Tinha havido muito movimento no acampamento, ia partir uma coluna de viaturas que a nossa patrulha apeada ia proteger, e os nossos soldados/camponeses de instintos apurados, sentiam que o pessoal da Frelimo observava tudo e não ia perder a oportunidade.


Depois de caminhar 2 ou 3 horas no escuro com a minha espingarda belga FN bem aperreada nas duas mãos, vi que amanhecia e finalmente podia fumar um cigarro. Levei a mão esquerda ao bolso da camisa e fiquei com a arma mal segura na mão direita.


Então rebentou o mundo. Várias explosões à minha frente atiraram-me de cu para a picada. Sentado e completamente estupidificado senti o chão a estremecer junto às pernas com o impacto das balas. Nenhuma bala, nenhum estilhaço de granada me acertou.


Quando alguns soldados se acercaram finalmente de mim, entrámos no mato e, a poucos metros, vimos o abrigo simples dos guerrilheiros e as cavilhas das granadas e os dois carregadores vazios.


Sorte pura.










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