21.6.11

MEMÓRIAS DE UMA GUERRA QUE NÃO DEVIA TER ACONTECIDO (III)

Há dias fui chamado ao quartel aqui da terra para depor sobre um processo de "stress pós traumático de guerra" relativo a um soldado do qual obviamente não me lembro.

Entre os episódios que o marcaram, conta ele que durante uma emboscada que nos causou alguns mortos e feridos, lhe caiu em cima uma bota ensanguentada.

Deve ser verdade porque o pequeno jipe que ia na frente da coluna foi pelos ares juntamente com os soldados que o ocupavam.

Foi um erro gravíssimo por ignorância e total inexperiência de todos nós.

Só então aprendemos que na frente da coluna se coloca um camião pesado e mesmo assim reforçado com sacos de areia (até junto aos pés do condutor) para aguentar o impacto das minas ou explosivos. Para se ver como todos os pormenores são importantes, acrescento que o camião levava um reboque também reforçado com sacos de areia, porque o respectivo rodado, sendo mais estreito que o do camião, detonava engenhos explosivos que de outro modo rebentariam com a segunda viatura.

Claro que um pouco de informação ou instrução adequada, ou a presença de alguém com experiência, podia ter evitado este e outos erros iniciais e poupado algumas vidas.

A foto não é minha mas as picadas de Mueda eram exactamente assim com o mato a impedir toda a visibilidade. Também era exactamente assim que se procedia, saltar quando havia tiros ou rebentamentos, e garanto que não era preciso mandar - era automático e rapidíssimo.

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