4.9.09

CRÓNICAS DO CHÁ ( IX )


OS CANTINEIROS

O Sr. A. era o dono da cantina que frequentávamos. Ao lado da pequena cervejaria tinha uma loja, com balcão comprido, onde vendia de tudo - mercearias, tecidos, ferramentas, uma infinidade de coisas. Estava bem situada, esta cantina, junto ao Chá Madal e no caminho para outra plantação menor. Muitos outros cantineiros não tinham tal sorte e estavam estabelecidos em simples cruzamentos de picadas junto a aldeias semi-abandonadas.

O Sr. A. gostava de servir a tropa - éramos bons clientes e as fardas verdes e camufladas transmitiam segurança e tranquilidade.

Gostava de nos contar o seu trabalho e as suas aventuras. Tinha um camião e, apenas com um ajudante, percorria várias centenas de quilómetros, até à cidade, para se abastecer. As picadas, que nós também conhecíamos, abundavam em buracos e pó. Na época das chuvas surgiam rios em todo o lado que era forçoso atravessar. Já tinha ficado atolado durante dias até chegar socorro ou a água baixar. Também havia pontes. O tabuleiro era de troncos amarrados que, volta e meia se soltavam debaixo das rodas das viaturas.
Quando havia aldeias, o Sr. A. e o ajudante iam à procura de excedentes, comprando um saco de milho aqui, uns cachos de bananas acolá.

Tinham uma fama péssima, os cantineiros. Merecida em alguns casos. Noutros talvez não. Mas os aldeãos atribuíam-lhes todas as culpas pelas suas dificuldades - o que vendiam era sempre barato e o que compravam, sempre caro. Os problemas dos comerciantes não lhes diziam respeito.

Não parece que fosse negócio para fazer milionários. Entrava um(a) cliente e pedia um escudo de açúcar. Saía com a compra num pequeno cartuxo cónico de papel pardo.


Apostilha: Em 2009, o governo de Moçambique está tentar recuperar 3.000 cantinas, consideradas essenciais para melhorar a vida nos campos.

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