1.9.09

CRÓNICAS DO CHÁ ( VI )

( Cerâmica de Rafael Bordalo Pinheiro)


PAGAMENTO SAFURI

Pagamento Safuri era um mainato (empregado doméstico) muito sorridente e bem disposto.

Baixote, olho vivo, dentes irregulares muito brancos, sempre a rir.

Limpava a casa e tratava da roupa de dois ou três de nós. Ganhava mais do que os apanhadores de chá, trabalhava menos e era bem tratado.

Simples e humilde, alinhava nas piadas e brincadeiras mas mantinha uma boa reserva.

Sim tinha mulher e filhos, mas sem pormenores.

Sim morava perto, mas não se percebia bem onde.

Qualquer pergunta vagamente relacionada com a vida na plantação ou em Moçambique era descartada com um sorriso e um encolher de ombros.

Isto era regra e não excepção.

Todos os moçambicanos negros reservavam as suas opiniões e as suas palavras.

A região já tinha sofrido a sua dose de violência e a guerrilha tanto podia andar longe como podia estar já bem perto. O mato torna tudo invisível a poucos metros.

Pagamento Safuri ria à gargalhada com a graçola da escala social moçambicana e confirmava que era verdadeira.

" Primeiro Branco, depois preto, depois cão e depois monhé (de origem indiana) ".

Os monhés depois dos cães, era um piadão.

O preto depois do branco, não era piada.

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