8.5.10

CRÓNICAS DE VIDA - A APANHA DA AZEITONA

(este post é para uma nova secção e só deve interessar a 2 ou 3 pessoas. Aos outros leitores, que também só devem ser outros 2 ou 3, sugiro melhores leituras como o anónimo sec XXI , o tempodascerejas, etc.) Pelos meus 7 ou 8 anos fui, com toda a família, apanhar azeitona para a fazenda do meu avô materno - Bartolomeu Ferro. Lembro-me dele como um velhote pequenino, austero e duro. Alugou um terreno inóspito e duro como ele. Os meus tios, todos trolhas e pedreiros, construíram uma casa, partiram pedra até encontrar um fio de água que levaram até à parte baixa do terreno, aí construíram um grande tanque para regar a horta que semearam. O meu avô também fez plantar oliveiras, árvores de fruto e erguer capoeira e pocilga. Tudo com a maior parte dos salários dos meus 5 tios mais o trabalho de fim de semana de toda a família ( mais 2 raparigas). Quando todos casaram, a mão-de-obra gratuita duplicou. Com todo este suor se construiu uma boa fazenda que depois reverteu totalmente para o dono do terreno. Eu gostava de ir para lá. Ao lado da casa havia uma eira, e eu fartava-me de chutar a bola contra a parede da casa. Também adorava comer pequenos morangos silvestres que descobria debaixo das folhas verdes nos regos da água, perto do tanque. E figos pingo de mel de uma pequena figueira isolada. Lembro-me disto porque não tinha tais mimos em casa. Sem nunca passar fome, não passava do mais básico e mais barato. Por isso, no dia da apanha da azeitona - eu enchi uma tigela de barro - também comecei a salivar quando, à merenda, o meu avô se pôs a assar um belo chouriço no espeto e ia recolhendo o respectivo pingo num grande pão alentejano. O velho Bartolomeu deve ter visto os meus olhos gulosos e perguntou-me : rapaz, encheste a tua tigela de azeitona, agora queres pão com molho ou com chouriço? Lembro-me perfeitamente da minha resposta: quero pão com molho e com chouriço.

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