9.5.10

CRÓNICA DE VIDA - A RUA DO CASTELO

( aplicar a nota previa do post anterior ) Cresci, literalmente, na Rua do Castelo, Portalegre. A jogar à bola - uma baliza no portão do castelo, outra no portão da loja, isto é, em lados opostos da rua mas nada frontais, o que tornava o futebol mais difícil , em L. O meu pai, senhor António para toda a gente, era um profissional polivalente e flexível (! ) Quando aprendeu a andar, nos campos de Alegrete, começou a guardar porcos. Mais crescido, tornou-se condutor de carroças. Depois de um acidente, foi para a cidade e, trabalhando para o mesmo patrão, passou a guarda do castelo em ruínas, tratador do cavalo e das galinhas do feitor, guarda e distribuidor das "comedias" isto é parte dos salários pagos em espécie - toucinho, azeite, cereais, lenha... Era ainda jardineiro no palácio e lacaio para todo o serviço quando os marqueses estavam na cidade. Não tinha jeito para nada mas fazia tudo, e a todos obedecia de boa vontade - ao marquês e à marquesa, ao feitor e às criadas. E à minha mãe, claro. Só no uso do chapéu resistia à mulher. Gostava e pronto. Mesmo que na cidade mais ninguém usasse. Agora também eu uso. Porque gosto e como lembrança dele. O meu pai gostava de me ver jogar à bola, mesmo quando sujávamos as paredes que ele tinha acabado de caiar. E avisava quando vinha a polícia. Punha alcunhas significativas. Cá em casa tínhamos a raposinha e a cotovia. Eu, na época da rua do castelo, era o ouriço cacheiro. Acho que ainda sou - cheio de espinhos.

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