25.8.09

CRÓNICAS DO CHÁ ( I )


UMA PISCINA NO ALTO DA MONTANHA

Estava-se bem no Chá Madal.
O clima era agradável e a velha casa colonial que nos destinaram tinha um alpendre, à sombra de uma grande mangueira, e com uma bela vista sobre a plantação.
Estendendo-se até perder de vista, as colinas estavam totalmente cobertas pelos arbustos verdes do chá. Parecia um grande mar tranquilo.
Depois de um ano com alguma guerra e muitas privações lá pelo norte, a plantação de chá, nos montes da Zambézia, era um refrigério.
Conversava-se e desconversava-se muito naquela varanda, muitas bocas a propósito ou a despropósito mas a calma era sólida e saborosa como as mangas que iam caindo lá do alto.
No íntimo, recordavam-se alguns maus bocados do ano anterior, agora com uma sensação de agradável alivio.
Mesmo após vários meses, ainda se sentia a descompressão. As tensões que havíamos acumulado, os medos que tínhamos escondido de nós próprios iam-se desvanecendo. Sabiamente, a nossa memória libertava-nos, pouco a pouco, dos nossos fantasmas.

Estava-se bem no Chá Madal.

E quando fazia mais calor, subia-se um pouco a montanha e encontrava-se... a piscina.
Lá estava ela, no cimo do Monte Mabu.
Não era grande, talvez de tamanho médio, mas sempre limpa , fresca e rodeada de relva.
Pertencia a uma grande casa envidraçada com mobília inglesa.
Era a residência do administrador e impressionava porque lá bem no alto, já perto do cume da montanha, isolada de tudo, não se esperava encontrar uma vivenda daquelas, mais própria de um bairro rico de qualquer cidade.
Mas ali, no alto da montanha, a casa e a piscina eram um símbolo de poder.
Do poder dos donos daquela e doutras plantações, a "Societé du Madal" - assim mesmo em francês e tudo porque a sede era no Mónaco, e além do príncipe respectivo, tinha accionistas de vários países europeus.

Um comentário:

Red Dragon disse...

Eu acho que este post é bom demais para estar no Tretas e devia ter um blogue próprio. E crónicas do chá é um bom nome.