29.8.09

CRÓNICAS DO CHÁ ( IV )


Golo de Mr. M.

O campo de futebol era uma pequena colina aplanada, rodeada de chá por todos os lados. Muito perto da casa de Mr. M.

Mr. M. era um exímio jogador. Apesar de andar pelos 50, era muito rápido, contornava-nos em grande velocidade e seguia, com a bola, na direcção da baliza.

Jogava com grande alegria. E vivia como jogava.

Tinha vindo do Ceilão e era um excelente técnico de chá. Graças a ele as folhas verdes secavam e maceravam com precisão.

Em casa, Mr M. tinha uma regra sagrada - as garrafas de whisky, uma vez abertas, não podiam transitar para o dia seguinte. Quando não tinha visitas era apenas uma por dia.

Mr M. era um inglês tranquilo e sorridente. No final dos anos sessenta, sabia perfeitamente que aquela vida e aquele trabalho tinham um prazo curto. Há muito que a sua pátria tinha descolonizado e, ali em Moçambique, só alguns portugueses, por ignorância, pensavam que seria diferente.

Mr. M. tinha grande vantagem sobre todos nós. Era de um país onde não havia censura nem polícia política. Nós não sabíamos nada. Tínhamos medo em vez de termos liberdade.

Por isso, Mr. M. vivia e saboreava cada dia.

Os lotes de chá saíam exactamente como deviam, as garrafas eram bebidas até ao fim e, no campo, aplicava-nos a sua finta fantástica.

Good Bye, Mr. M.

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