Simplesmente brilhante
No banco ou no sindicato, as reuniões e assembleias eram preparadas com atenção.
Discutiam-se os temas, as propostas, as intervenções. Indicavam-se os oradores.
O Carlos Grilo, absorto, observava o tecto, puxava a barba. Mesmo interpelado directamente para se encarregar de uma intervenção, respondia no máximo com uma interjeição.
Julgávamos que ele nem ouvia e portanto não ia falar.
Mas, na assembleia ou reunião, no momento oportuno, o Grilo pedia a palavra e a intervenção saía límpida e convincente. Simplesmente brilhante.
Haverá um ano, o Carlos veio almoçar comigo.
Recebeu muitos telefonemas porque o sector pelo qual respondia estava a organizar uma reunião importante.
Respondeu sempre de maneira muito clara e precisa.
Terminou sempre com uma nota de bom humor, uma pequena gargalhada.
Estava em grande forma.
Voltámos a encontrar-nos nos corredores do Campo Pequeno, durante o último Congresso.
Explicou-nos (éramos um pequeno grupo) que saía do C.C. porque era boa altura e porque havia que dar entrada a outros. Ele continuava disponível para tudo o que fosse preciso.
Não nos falou de doenças. Estávamos contentes. Trocámos piadas. Ouvi, pela última vez, aquela gargalhada forte e rápida.
Adeus, camarada.
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